A solicitação de recuperação judicial da Azul nos Estados Unidos, protocolada na quarta-feira (28), acendeu o alerta de analistas e investidores sobre os possíveis reflexos para a Embraer, uma de suas principais fornecedoras de aeronaves. A principal preocupação está ligada à revisão nos planos de frota da companhia aérea, que pode afetar encomendas previstas.
Na reestruturação apresentada à Justiça americana, a Azul anunciou que pretende reduzir sua frota planejada em 35%. Isso significa que, ao final de 2025, a companhia espera operar com 170 aviões contratados 31 a menos do que o estimado anteriormente. Para 2027, a previsão caiu de 218 para 172 aeronaves.
A Embraer aparece como parte diretamente envolvida, já que tem atualmente 51 pedidos firmes da Azul, o que representa cerca de 15% da carteira de aviação comercial da fabricante. A empresa aérea também é a maior cliente do modelo E195-E2, respondendo por 34% dos pedidos da versão.
Um relatório do J.P. Morgan divulgado após o anúncio da Azul observa que o movimento gerou um “sentimento negativo” sobre a Embraer, dada a importância da empresa aérea como cliente. Ainda assim, o banco estima que os impactos nas operações da fabricante neste ano serão limitados.
As ações da Embraer refletiram a incerteza: chegaram a cair 3% na abertura do pregão dessa quinta-feira (29), e por volta das 16h registravam baixa de 0,43%, com papéis negociados a R$ 66,55.
O banco BTG Pactual também avaliou os possíveis efeitos da recuperação judicial da Azul na Embraer. “No momento, é difícil avaliar se esse ajuste ocorrerá por meio de adiamentos, cancelamentos, renegociação de contratos ou outro formato”, escreveram os analistas Lucas Marquiori e Fernanda Recchia. A conclusão, no entanto, é de que o impacto será restrito.
Segundo cálculos do BTG, a exposição da Embraer à Azul representa menos de 1% do valor de mercado da fabricante — um total estimado em R$ 209 milhões quando somados todos os contratos com clientes brasileiros, incluindo a Força Aérea. “Estimamos que a exposição da Embraer à Azul seja apenas uma fração disso – ou seja, menos de 1% do valor de mercado da companhia”, destacam os analistas.
Ainda que parte dos pedidos possa ser renegociada, a Embraer teria margem para redirecionar a produção, aproveitando a demanda internacional por aeronaves regionais e as dificuldades de oferta no setor. Além disso, a fabricante tem ampliado sua presença no exterior, o que reduz a dependência de encomendas locais.
Outro ponto mencionado no relatório é que eventuais cancelamentos não são simples. Empresas do setor aéreo costumam pagar valores antecipados como garantia nas encomendas, o que torna a rescisão dos contratos uma alternativa mais onerosa. Por isso, o BTG considera mais provável o adiamento das entregas.
Apesar da reestruturação, os analistas observam que os jatos da Embraer ainda podem ser parte da estratégia de recuperação da Azul. “A Azul pode ter acesso a condições de financiamento mais favoráveis ao adquirir aeronaves produzidas localmente (Embraer), em comparação com modelos importados, como os da Airbus”, afirmam.
No processo judicial, a Azul declarou um passivo de US$ 9,57 bilhões (cerca de R$ 54 bilhões) e busca reestruturar cerca de US$ 2 bilhões dessa dívida. Entre os 30 maiores credores listados, há duas empresas do grupo Embraer, com mais de US$ 36 milhões a receber. E mais: Correios passam a atender reclamações sobre descontos indevidos no INSS. Clique AQUI para ver. (Foto: EBC)